Fui para a cozinha, tomei meu primeiro copo de água gelada, preparei meu cafezinho, vim arrastando meus chinelos com muita preguiça, copo na mão, saboreando aos pequenos goles daquele que tanto gosto, bem devagar.
Abri as cortinas da sala de estar, corri as folhas da janela para esquerda e para direita, debrucei e fiquei observando o movimento das pessoas.
Algumas já acostumadas com minha rotina, erguem o olhar e me deixam um bom dia, outras deixam um sorriso, tem aquelas que andam olhando ao chão e nem percebem nada em volta e aquelas que já passam conversando sozinhas ou com elas mesmas. Sei lá... Essa nossa vida é tão louca e turbulenta.
Vou ao banheiro e tiro meu pijama de ursinhos. Ele está velho e surrado, mas é bem gostoso de dormir com ele. Tem um tecido amaciado pelo tempo de uso. Entro no boxe e tomo meu banho matinal.
Fico por uns instantes quieta, deixo a água quente escorrer pelo corpo levando o suor da madrugada, os meus sonhos e todos os desejos que tive nas viagens noite adentro.
Abro um pouco mais o registro, deixo a água bem morna e transparente cair sobre os cabelos, tomo o banho vagarosamente, esse é o melhor tempo de relaxamento, desligo e me enrolo na toalha felpuda e vermelha, a preferida por ser macia e grande.
Me olho no espelho, arrumo meus cabelos, pego um pedaço de algodão molho com uma loção refrescante, limpo meu rosto e em seguida passo creme.
Dou um suspiro e penso: Ah! Mais um dia comum...
Entro em meu quarto, escolho uma roupa bem a vontade, uma bermuda e camiseta, deixo a cama arrumadinha, acordo meu filho para o café, logo as ligações para encomendas começarão a chegar, nem dá tempo para mais um momento de preguiça.
O telefone começa a tocar e eu já vou nas minhas anotações, olhares nos armários para ver se tenho tudo que preciso em casa, vou para cozinha.
Quase um ritual sem grandes modificações no dia a dia, tomo mais um cafezinho, fumo tranquilamente meu cigarro, sei bem que não terei mais este tempo, nem para apreciar o infinito olhando pela janela da cozinha debruçada na pia.
Mas antes de separar os legumes e folhas para lavar, resolvo dar uma olhada básica no e-mail. Estranho pois nunca faço isso as nove horas da manhã.
Queria ler e responder um bom dia aos meus amigos reais e virtuais. Isso é muito gostoso quando vejo atualizações dos blogs.
Liguei o computador, logo entrou a página principal de notícias, comecei a ler, parei, fiquei sem fala, sem ação...estava atordoada com o que estava lendo: "Um jovem entrou em uma escola no Rio de Janeiro atirando em crianças e adolescentes!!!"
O que leva um ser humano a cometer um ato assim, como chegamos a esse ponto? A solidão, a falta de carinho os pensamentos sombrios?
Nada saberemos de concreto e verdadeiro, nada justificaria o seu ato, ele levou consigo todas respostas verdadeiras, lamentei por este ser humano.
Chorei, chorei muito. Eram apenas crianças...somente crianças!!!. O que elas tinham a ver com qualquer que seja o problema daquele rapaz?
Meu dia se tornou escuro, sem motivação, frio e triste. Quanto mais eu pensava, menos entendia e mais chorava.
Tenho muita fé, mas juro que nesse momento, perguntei: Deus, porque permitiu isso? Claro que nem deveria ter questionado, quem sou eu. Mas aquele foi meu primeiro impulso.
Tudo saiu da rotina, nada mais estava em seu lugar, eu não me achava e não consegui fazer render todo o meu trabalho naquele dia.
Meu filho sentiu o quanto fiquei abatida. Nosso almoço que é sempre com conversas, ficou mudo. O nosso silêncio tomou conta da casa.
O que nos restou foi apenas o sentimento de tristeza por todas crianças que se foram e pelos seus familiares, principalmente pelas mães.
Então em um momento mais lúcido pedi perdão a Deus por meu impulso da pergunta. Pedi a ele que desse conforto aos familiares e abrandasse o coração daquelas mães.
Simplesmente do nada e sem planejamento algum, a minha quinta-feira passou a ser um dia totalmente "Incomum."
07/04/2011 Má Ibrahim